Rótulos e Expectativas

O humano é um ser incrível, presente em praticamente todo o mundo, capaz de fantásticas proezas tecnológicas, seja por sua formação corpórea ou por sua capacidade cognitiva. Inclusive, chamar a nós mesmos de humanos vem da observação do mundo e da compreensão de que éramos diferentes de outras espécies, mas similares entre nós. Assim também diferenciamos materiais, alimentos, eventos sazonais e praticamente tudo à nossa volta. O Homo sapiens pode perceber as semelhanças e identificar padrões, distinguindo coisas ou seres concretos ou mesmo conceitos abstratos, ao que damos o nome de classificação, que aplicamos inclusive a nós mesmos.
Rotulação
Classificar foi essencial na evolução humana, agrupando itens em todas as áreas do conhecimento. Categorizar coisas funcionou para que os humanos interagissem com o meio ambiente e entre eles mesmos. Classificar onde era, ou não, possível sobreviver. O que é comestível, consumível ou que representa perigo. Quem é caça e quem é caçador.
Desde os primórdios da humanidade, seus protagonistas classificavam tudo e todos. Começamos esse movimento de nos agrupar por determinadas características. Tamanho, sexo, cor de pele, crença, constelação no céu no dia de nascimento. Infelizmente, também nos afastamos uns dos outros pelos mesmos motivos, como se um fosse melhor que o outro.
Isso não se perdeu ao longo do tempo: agravou-se. Novas e “criativas” maneiras de dizer quem é merecedor, ou não, de pertencer a um grupo ou outro surgiram. As consequências podem ir de uma simples comparação entre quem tem mais ou menos cabelo, a guerras e extermínio.
Olhe para si. Em quantos estereótipos você se encaixa? Ou melhor: em quantos já te encaixaram? “Tiozão”, “Brasileiro”, “T.I.”, “Sangue O positivo” e “de Gêmeos” são alguns atribuídos a mim. Veja que há classificações que são úteis e benéficas. Mas nenhuma individualmente me define como um todo. Algumas nem sequer aproximam-se da realidade. Nem todos juntas podem descrever minha totalidade. Quiçá eu mesmo.
Predefinições
Toda classificação social impõe características para cada “espécie” dentro do grupo. Como dito anteriormente, tanto para identificar quem faz parte, como para excluir em outro caso. Dentro de um determinado grupo, com todos os critérios confirmados, há também uma série de expectativas quanto ao comportamento deste membro.
Se estamos a falar de MBTI, é de se esperar que uma pessoa classificada como INFJ (um dos 16 tipos descritos no modelo citado), seja rotulado como tímido ou acanhado, o que não tem correlação direta. Se estamos a falar de regionalismo, é esperado que um paulistano seja arrogante e ostentador por quem não é de lá; entre os próprios paulistanos é consenso que o seu sotaque é “neutro” (sem sal, em minha sincera opinião). As virtudes e expectativas são criadas entre os membros do próprio grupo, assim como outras são geradas a partir de outros grupos a respeito deste.
Todas estas predefinições nos coloca em caixinhas, como se fossemos unicamente o que se espera de quem ali está. Independentemente se estamos em mais de uma delas simultaneamente. Às vezes, mesmo se não cumprirmos todos os requisitos de um determinado grupo somos, ainda assim, rotulados como tal e as expectativas nos são atribuídas pelo que é esperado pela definição geral. O nome do fenômeno neste caso? Preconceito!
Perspectivas
A partir do exposto, gostaria de propor a racionalização e reflexão quanto ao julgamento que fazemos a respeito dos outros indivíduos com os quais interagimos todos dias, assim como suas ações, a partir exclusivamente de sua aglomeração.
Isso pode significar não reduzir todo o universo que cada pessoa pode ser a alguns rótulos. Cada pessoa a sua volta é única, não importa em quais “caixinhas” outrem os coloquem. Isso não significa que alguns grupos não sejam importantes para os indivíduos. Significa que alguém não é só preto, é também escritor, trabalhador, pai de família, foi herói na última semana, além de uma infinidade de outras coisas e histórias, as quais seriam impossíveis de descrever.
Da mesma maneira, também significa não atribuir a um indivíduo virtudes a partir de sua agremiação. Fazer parte de um grupo virtuoso não te faz uma pessoa exemplar, principalmente quando suas atitudes não condizem com o que se espera desse “rótulo”. Dizer que é de fé X ou Y não é um certificado de santidade. Vossas atitudes individuais devem dizer mais sobre seu caráter do que quaisquer “títulos” que venha a ter.
Já quanto a nós, nossas “ caixinhas” e estereótipos, deixarei para o próximo texto, no qual aprofundaremo-nos nas nossas infinitas possibilidades de classificação. Ou seria somente do nosso “eu”?

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