Não estás só

Oito mil milhões de pessoas. Mais que isso. Cerca de duzentas nações. Incontáveis culturas, línguas, povos. Cidades, vilas, aldeias, famílias. Indivíduos!
Mesmo com muitas semelhanças ao redor, é obvio que temos nossas próprias ideias, convicções e sonhos. Encontrar na tribo, grupo, turma, malta ou equipa é deveras difícil. Mas encontramos, nem que seja nos braços da família, ou mesmo pelo trabalho.
Ainda assim, há coisas que são só nossas, íntimas ou não. Às vezes partilhamos alguma coisa com pessoas próximas, mas dificilmente é tudo. Muitas vezes nós mesmos não nos damos conta de tudo que está aí dentro, não?
Conhecendo nosso Jardim
Gostaria veementemente de duvidar que estejas de acordou com tudo o que lhe é apresentado, seja por políticos, amigos, pessoas no trabalho; ou mesmo por meio de redes sociais e mídia. Não há nada mesmo que não concordes no meio disso tudo?
Sugiro este exercício pois sempre é fácil olhar para o outro, principalmente para o que concordamos. Olhar para dentro sempre é mais doloroso, pois tendemos a ter medo da não aceitação ao que parece estranho a outrem. Sempre temos receio do julgamento, incluso o nosso.
Não vou aprofundar-me agora sobre identidade, tema que abordarei no proximo texto. Por hora gostaria que mantenhas em mente que, para qualquer coisa evoluir, é necessário que a conheçamos, incluso nossa psiquê e seus cantos mais obscuros.
Dito isso, convido-te a conhecer-te melhor. Gostos, desgostos, o que gostas de cultivar e colher, o que é erva daninha, o que permites que entre em vosso jardim e o que definitivamente não tem espaço lá.
Nenhum jardim cresce só
Quando verdadeiramente conheces vosso jardim, reconhecerá facilmente o que cultivas em outros jardins. Outras pessoas reconhecerão em ti coisas que também cultivam.
Assim como cuidar da flora, o seu jeito de cuidar das coisas que gosta é único e, à princípio, não tens prática ou mesmo técnica. Então percebes que precisas melhorar. Podes só olhar, ou falar com alguém a respeito e tentarás da outra maneira.
Há aquelas coisas que dominas. Tens a opção de guardar para ti e não permitir que ninguém o faça igual. Mas também podes partilhar.
Há também algo entre esses extremos, que é a interação. Partilha e aprendizado com a intenção de evolução mútua. Pode haver troca. Mas também há conexão, rasa ou profunda; de um simples tópico a toda uma filosofia de vida.
A partir dessa afinidade, vosso jardim cresce. A depender da partilha, novas sementes podem germinar, novos espaços se fazem necessário. Para ambos.
Todas essas diferentes conexões podem levar a uma compreensão de coletivo. Este, por sua vez, em toda sua rede, coloca-te em sociedade.
Os espaços sombrios
Nosso jardim é também composto daquelas zonas, as quais não nos orgulhamos muito, que não são belos ou boas, mesmo para nós.
A conversa aqui não é sobre transformação destas áreas, mas sim de aceitá-las. Sim, toda a gente têm dentro de si esses pensamentos, teorias, maneiras de enxergar o mundo que, à princípio, parece-nos nada socialmente aceitáveis. Ou mesmo que possam ser considerados crimes sob a lei, de pequeno ou imenso impacto.
Por aceitar esses pensamentos, não estou a incentivar que realize-os, mas que entenda-os. Porque tens essa necessidade? O que pode alimentar esses desejos? O que pode saciar essa vontade sem magoar quem está a sua volta, ou mesmo a comunidade na qual vives? O que pode deixar o ambiente confortável para fales a respeito?
Agora o ponto importante: de certo não és o único ser com este pensamento. também é possível partilhar, mesmo que o outro não tenha a mesma linha mental.
A partir do ciência destas zonas sombrias, seus custos e benefícios, impactos individuais, coletivos e sociais, podes levar-te à realização dos mesmos. Ou, ao menos, permitir que cries maneiras de saciar esse ímpeto. Toda realização e ações terão, de certo, impactos ao seu redor.
Um mundo de jardins
Vale ter ciência também que vives em sociedade, há mais de 8 bilhões de jardins por aí. Cada um com sua flora frutífera, belezas florais, plantas carnívoras, ervas daninhas e organismos completamente incompreensíveis para qualquer outra pessoa. Cada qual em diferentes proporções, de acordo com cada indivíduo. Outras pessoas têm virtudes e obscuridades. As zonas sombrias que citei anteriormente também existem lá, com outros tipos de seres cultivados ali. Cada pessoa com todo seu jardim, com tudo que isso represente para a mesma.
Acredito que não desejes que vosso jardim seja tomado por alguma praga, correto? Ou mesmo que alguém entre em seu cercado e pise em suas flores; ou mesmo naquele broto de sabe-se lá o que, o qual é de suma importância para ti.
Deves ter o cuidado de cuidar de teu jardim, assim como direcionar adequadamente quem permites que o adentre, caso assim faça-se vossa vontade. O mesmo cuidado e carinho deve-se ter ao receber um convite para visitar o jardim alheio. Creio não ser necessário dizer quão doloroso é para quem tem seu jardim invadido a força, não?
Cuide de vosso jardim. Entenda as sombras de vossa mente. Entenda a arte neste rico bosque, em cada pequena folha e pétala. Respeite-se e respeite o espaço do jardim alheio. Converse sobre melhores maneiras de cuidar de sua flora. Caso ainda tenha dificuldade de lidar com toda essa diversidade de vida em vossa cabeça, consulte profissionais - da área de psicologia no caso. Boa jardinagem!

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